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domingo, 12 de maio de 2013

Verticalização (verdades ocultas)



Por Cláudia Carminati

São Paulo, 12 de maio de 2013.

Li recentemente em um informe publicitário que o crescimento na região da Mooca, em 12 anos, foi de 10.089 unidades lançadas. Se cada uma dessas unidades trouxer ao menos um carro e uma pessoa para a região (isto sendo muito gentil, porque no mínimo esses empreendimentos possuem duas vagas de garagem e, provavelmente, acomodará ao menos um casal), são 10.089 carros e 10.089 pessoas transitando em uma região com a mesma infraestrutura de antes. Neste caso, será que a prefeitura não se vê obrigada a agir na região já que esses empreendimentos em nada fazem pela melhoria dela?
Além do volume de carros e pessoas aumentar, os novos empreendimentos usarão o mesmo sistema de esgoto e ruas já existentes, gerando um grande impacto na vizinhança. A verba que a prefeitura destinará para amortizar estes impactos nesta região poderia ser usada na melhoria de outros locais da cidade, onde os moradores antigos aguardam há anos. Esta verba poderia ser usada para melhoria de ruas, hospitais, escolas, iluminação e pontos de alagamentos existentes
há décadas.
Os apelos citados por eles, como bairro e ruas tranquilas, áreas verdes, condomínios fechados repletos de lazer e segurança, revitalização, melhorias urbanas e metrô, não levam em conta a piora da qualidade de vida trazidas por estes novos emprendimentos: muito barulho durante as obras que causam pó e abalam as residências vizinhas, trânsito, aumento do valor do aluguel do entorno, comércios antigos fechando, vizinhos que não se conhecem etc.
Eles comentam que esses novos empreendimentos valorizam a região, mas esquecem de dizer que o morador que vendeu sua casa para que no local construíssem um edifício não conseguirá comprar, na mesma região, outra casa ou mesmo um apartamento com o valor recebido. Com essa “valorização”, o valor do aluguel da região aumentará e os comerciantes ou moradores muitas vezes se veem obrigados a mudar por não terem mais condições financeiras de ficar no local. Por exemplo, um quarto e cozinha que antes custava em torno de
R$ 200, com esta “valorização”, agora
custa R$ 560.
De acordo com o mesmo informe, “o mercado imobiliário vive da disponibilidade de terra e da outorga onerosa1”; “com menos espaço disponível, o ideal é fazer empreendimentos que ‘rendam mais’ por m2.” Isto é, não se importam com o bem estar das pessoas que irão comprar um imóvel ou que são vizinhos aos seus empreendimentos. Eles, com sua ganância,  querem construir nas regiões que possuem mais estoque de outorga onerosa e com o máximo de “benefícios” possíveis para poderem vender mais caro e lucrar mais. Pensando assim, quanto mais alto um edifício, mais unidades ele possui e mais eles lucram.
Esses novos empreendimentos são minicidades de luxo com muito lazer, tecnologia, depósitos, seguranças e funcionários, o que aumenta o valor de venda e do condomínio. Um trabalhador comum, que recebe um salário mínimo no fim do mês não tem como comprar um imóvel deste tipo, pois um apartamento chega a custar R$ 1 milhão.
Enquanto eles constroem os novos empreendimentos próximos ao metrô e utilizam isso como artifício de venda para “convencer” pessoas que possuem grande poder aquisitivo e carros a comprar uma de suas unidades, as pessoas de baixa e média renda são empurradas para bairros mais distantes e são obrigadas a pegar ônibus lotados, ficando horas no trânsito para atravessar a cidade para chegarem em seu locais de trabalho.
1 Outorga onerosa: concessões em relação à metragem máxima a ser edificada.

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