Páginas

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Vila Pompeia, anos 1980



Corria o ano de 1983. Desde o ano anterior, subiam duas torres nos terrenos que durante anos foram uma casa vazia e uma outra casa, também tão grande quanto, onde ainda residia uma idosa senhora.

Abandonada depois de uma empresa sair dali, acabamos fazendo de uma daquelas casas a extensão dos nossos quintais. Brincávamos muito em seu imenso terreno. Entre a casa da frente e a grande edícula, havia uma piscina vazia, um pomar com laranjeiras, limoeiros, bananeiras e jabuticabeiras.  A gente pulava o portão e ocupava aquilo tudo. Éramos meninos e meninas de diversas idades, entre 6, 7 até 12 anos em média. Amigos, ou nem tão amigos assim, brincávamos nas férias todos os dias, e em período escolar, aos finais de semana. E aquelas plantas, portas, janelas e espaços testemunhavam nossos jogos, nossas brigas, brincadeiras e colheitas, pois havia fartura naquele pomar. Especialmente jabuticabas que eram muitas e atraiam mais crianças ainda.
Na falta de uma praça ou parque próximo de nossas casas, a diversão e o lazer se concentravam ali. Naquele tempo, 1975 aproximadamente, haviam  na vila Pompeia uns 4 ou 5 prédios acima de 10 andares. E só. Na imagem dá pra ver um deles, que esta na rua Raul Pompeia desde 1970 e tem doze pavimentos.
Então, um dia, a fachada do casarão foi coberta por  tapumes e terminou uma parte da nossa infância. E assim permaneceu fechado por uns 3 anos até que a casa ao lado fosse vendida e ambas viessem abaixo. De invasores, passamos a ser meros observadores de uns tapumes colocados na frente daqueles dois terrenos na rua Barão do Bananal,  altura do número 760.

Voltamos agora ao fatídico ano de 1983 quando as duas torres já subiam e alguns anos me separavam daquela casa, e de alguns amigos. Subi então no telhado da minha casa e fiz essa foto. Para mim, essa fotografia marca o começo de um processo que se mostra ininterrupto. A verticalização desmedida do bairro. A verticalização segundo o mercado imobiliário e não o bom senso dos gestores que por aqui passaram. E que nunca observaram o malefício do adensamento dos bairros e seus transtornos. E pior, nunca, nada fizeram para mitigar esse processo.

Continuamos sem praça, sem graça, diante do horizonte que vai sumindo, diante da chegada de milhares de carros e a consequente piora da nossa qualidade de vida. Não, não sou contra o progresso. Desde que ele observe o bom urbanismo. E esse, para ser bom, deve observar que  uma cidade tem que ser feita levando em conta um “pequeno” detalhe, as pessoas que nela vivem.